Orçamento Participativo de Guimarães

Guimarães vai ter Orçamento Participativo (OP).

op imagem

Como partidário e praticante da cidadania ativa, foi com entusiamo que recebi a noticia de que Guimarães terá Orçamento Participativo, com processo a iniciar já em 2013.

É sem dúvida uma excelente notícia. No entanto, após consultar a Carta de Princípios e as Normas de Participação , o entusiamo esmoreceu e deu lugar a perplexidade e desilusão.

Os principios enunciados na Carta, não tem correspondência nas normas de participação, que pelas restrições impostas contrariam o principal espirito dos OP: a partilha do poder de decisão.

As normas de participação do OP de Guimarães, nos seus artigos 3º e 5º, limitam o âmbito temático e valor das propostas de uma forma que mais nenhum outro o faz em Portugal.

ambito temático

verbaOP em PortugalExistem alguns concelhos onde são os municipes que elegem as áreas prioritárias, e outros que exigem que as propostas se enquadrem nos eixos orientadores da Estratégia de Sustentabilidade do município, mas nenhum concelho limita o âmbito temático como em Guimarães.

Também o valor máximo da proposta (50.000€ em Guimarães)não tem paralelo em nenhum outro OP e é tremendamente penalizador para os cidadãos, que vêm as suas preocupações com o bem comum limitadas a um valor  tão baixo que inviabilizará muitas propostas com ambição e mérito.

A limitação temática do artigo 5º é contrária aos objetivos enunciados na carta de principios. Ao limitar o âmbito temático, as normas de participação: 1. não “permitem aos cidadãos integrar as suas preocupações pessoais com o bem comum”; 2. não irão “adequar as politicas públicas municipais às necessidades e expetativas das pessoas”.

Objetivos

As “preocupações pessoais” dos cidadãos e as suas “necessidades e expetativas” foram orientadas pela câmara municipal, constituindo uma forma de censura, e dando a entender que ou não confia ou receia a escolha livre dos cidadãos.

Ao eleger as áreas de ação e intervenção social (1), cultura e turismo (2) e desporto (3)como as únicas sujeitas a propostas de intervenção, a CMG está a indicar quais as suas prioridades de intervenção, ou então, a indicar qual a perceção que tem das prioridades dos seus munícipes. Seja como for, discordo das escolhas. Limitar é mau, as opções péssimas.

Nos concelhos onde não há censura, as áreas de atividade com mais propostas de intervenção são as do Espaço Público e Espaço Verde, e Infra-estruturas Viárias, Trânsito e Mobilidade, que segundo o relatório do OP de Lisboa tiveram juntas, desde o seu início (2008/9) mais de 75% das propostas apresentadas.

Relatorio Lisboa

As áreas temáticas que mais preocupam os cidadãos dos outros concelhos com OP, em Guimarães foram excluidas por decisão unilateral da CMG, que elegeu 3 áreas que já têm uma dotação orçamental considerável, e que para além disso tem cooperativas com intervenção nessas áreas: A Fraterna, A Oficina e a Tempo Livre, que também são subsidiadas pelo orçamento municipal. A Cultura esteve todo o ano sujeita a propostas de intervenção, seja através da Fundação Cidade Guimarães ou da Tempos Cruzados. O Desporto terá este ano de 2013 com a Cidade Europeia do Desporto uma dotação orçamental extra de 500.000€. A cultura e o desporto não me parecem prioritários.

Não consigo entender que critérios estiveram presentes na decisão de limitar os temas de participação, mas estou certo que não foram os que constam da Carta de Principios.

Resta dizer que apesar de ter começado com o pé esquerdo, segundo as normas de participação estas serão revistas anualmente, num processo que espero que seja participado por todos, e que possa fazer com que o orçamento seja realmente participativo.

José Cunha

Regulamento Acesso Centro Histórico – II

Em fevereiro passado escrevi um post neste blogue sobre o Regulamento de Acesso ao Centro Histórico, onde relatei a minha desilusão para com todos os partidos politicos que aprovaram um regulamento que não serve os propósitos que todos eles reclamam.

Dizem que temos que dar “um passo de cada vez“. E eu digo que esse, é o argumento recorrente de quem não tem coragem para desagradar, mesmo sendo caso disso.

Mas a  filosofia do “um passo de cada vez“, não foi só seguida nas restrições impostas no regulamento, a falta de coragem está bem patente na demora e desorientação na sua aplicação. Ora vejam lá.

16 fevereiro – aprovado em reunião de câmara
27 fevereiro – discutido e aprovado em assembleia municipal
21 março – entrou em vigor
14 maio – sinalização das restrições junto aos CTT e Café Milenário, e colocação de barreiras na Rua da Rainha.

Porque é que só dois meses após a entrada em vigor do regulamento é colocada a sinalização que lhe confere eficácia legal no terreno?

Os sinais colocados nos CTT e Milenário não estão corretos. Falta a indicação de que a zona também é de estacionamento e paragem proibidos. Será que foi só incompetência? Será que vão fazer plantação de sinais? Terá sido “esquecimento”? Uma coisa é certa, enquanto não houver sinalização, a Policia Municipal não vai ter a “dor de cabeça” de fiscalizar (desagradar) estacionamentos na zona.

Apesar da sinalização, o acesso à zona intramuros tem-se processado como se nada tivesse mudado. À exceção da Rua da Rainha, onde colocaram pilaretes, os carros circulam como dantes com a indiferença da Policia Municipal. Alguns agentes, por mim interpelados,  afirmam não ter tido qualquer formação sobre o regulamento, que aliás desconhecem como ficou bem patente nas respostas às minhas observações.

Como é possivel, que dois mêses após a entrada em vigor de um regulamento, ao agentes responsáveis pela sua fiscalização o desconheçam?

Quando é que vamos ter sinalização e fiscalização adequada para fazer cumprir o Regulamento de Acesso à Zona Intramuros do Centro Histórico de Guimarães? Ou terá sido só para “inglês ver”?

Porque será que nem classe politica, nem comunicação social se insurgem com estas questões de mobilidade? Será indiferença? Será dos “brandos costumes”? Será porque não é futebol? Será porque não dá votos?

José Cunha

Regulamento Acesso Centro Histórico

A Assembleia Municipal discutiu e aprovou por unanimidade o Regulamento de Acesso ao Centro Histórico de Guimarães.

Este regulamento, em substância, não trás quase nada de novo, e limita-se a passar a escrito as restrições habitualmente implementadas para aquele espaço.

Resumidamente, o regulamento impede o trânsito e estacionamento na zona intramuros das 21:30 às 7:00.

Fui à assembleia para ouvir argumentos, e para deixar expressa a minha opinião, mas não tive coragem para intervir.

Deixo aqui o que tinha escrito para lá falar:

Desde há muito que a mobilidade em Guimarães tem merecido a minha atenção e intervenção, e o que me traz aqui hoje é o novo regulamento de acesso ao centro histórico.

O Centro Histórico de Guimarães é património mundial há dez anos.

A UNESCO, no documento de nomeação de Guimarães a Património Mundial, no capitulo que fala dos fatores que afetam o “bem” (Centro Histórico), refere o automóvel em 3 dos seus 6 pontos, que eu resumi da seguinte forma:

  • A circulação e estacionamento colidem com o espaço dos peões.
  • A poluição sonora, visual e atmosférica afetam os visitantes.
  • A circulação automóvel, acelera a degradação dos edifícios.

O que eles referem é óbvio, e creio que todos concordarão com essa leitura.

No entanto, e dez anos volvidos, o que foi feito para reverter a situação? Quase nada.

Estivemos dez anos a marcar passo, e quando temos a Capital Europeia da Cultura na nossa cidade, a justificar e exigir um passo firme e determinado rumo à pedonalização, o que é que fazemos?

Damos um passinho, tímido e medroso.

Ouço dizer repetidamente que temos que “receber bem” para colher os frutos da CEC no pós 2012, mas será que sujeitar quem nos visita a conviver com o automóvel em  boa parte do nosso centro histórico é “receber bem”?

As cidades que concorrem com Guimarães pelos turistas certamente agradecem.

No preâmbulo do regulamento diz-se pretender “proteger e melhorar as condições de fruição e preservação do Centro Histórico intramuros, reduzindo o impacto negativo, estético e ambiental, da circulação automóvel e potenciando a mobilidade pedonal, designadamente dos visitantes”.

Acreditam sinceramente que condicionar o acesso entre as 21:30 e as 7:00 fará cumprir os objetivos pretendidos?

O tráfego nesse período corresponde a que percentagem diária?

Foi feito algum estudo? Sabem quantos, porquê e em que horários se acede ao CH?

Eu calculo que o período de acesso condicionado não ultrapassará os 10% do tráfego diário, pelo que pergunto: que problemas serão resolvidos?

Será que diminui substancialmente a passagem de carros pelo CH? Não.

Diminui o conflito com os peões? Não. Não é esse o período de maior afluência de peões.

Protege o edificado dos malefícios da circulação automóvel? Também não.

O Sr. Presidente da Câmara afirmou estes dias a um jornal que não admitirá que “a recolha de imagens de um monumento seja ferida por algo que não lhe corresponde”.

Dou um prémio a quem conseguir encontrar à venda um postal do Largo da Misericórdia (deste século). Porque será? Não é por falta de monumentos.

Até quando essa “pérola” da “jóia da coroa” vai continuar a ser um parque automóvel?

Quero deixar claro que não defendo soluções fundamentalistas.

Não defendo a proibição total de automóveis ao centro histórico, mas sim o acesso condicionado, acompanhado de incentivos à fixação de moradores e comércio.

Querer um centro histórico liberto de automóveis não é fundamentalismo.

Fundamentalismo, é submeter o centro histórico ao jugo do automóvel.

Fundamentalismo, é saber que as ruas do centro histórico não foram construídas nem dimensionadas para carros, mas mesmo assim, afetar 70 a 80% do seu espaço para uso do automóvel.

Fundamentalismo, é querer estacionar 15 carros na Rua do Retiro, ou 20 na Rua João de Melo.

Quando tomei conhecimento que estariam a preparar este regulamento, e tendo a perceção de que todos os partidos defendem o condicionamento automóvel no centro histórico, criei algumas expetativas, mas como diz o ditado, “a montanha pariu um rato”. E dos pequenos.

É minha convicção, que se este regulamento não for revisto a curto prazo, continuaremos a marcar passo.

Haja coragem!

Em aditamento ao que escrevi na altura, acabo com uma frase do presidente da câmara, proferida nessa assembleia: “Só governa quem desagrada, se for caso disso.”

José Cunha

A “bagunça” na mobilidade

Fez um ano por estes dias que escrevi neste blogue o artigo Tolerância Zero à Tolerância Garantida, para denunciar os estacionamentos abusivos e a indiferença das autoridades em Guimarães.

Durante este ano, publiquei ainda, mais três artigos no blogue Olho Verde:
Estacionamento selvagem
O poder do automóvel
O poder do automóvel II

Foi por isso que recebi com grande satisfação as noticias de que o Presidente da Câmara quer acabar com a “bagunça” no estacionamento em Guimarães.

No entanto, a “bagunça” não é de hoje, pelo que me pergunto:
  – Será distração, e preocupação genuina?
  – Será pela proximidade da CEC?
  – Será para justificar a passagem de funções da PM para a Vitrus?

Seja como fôr, para mim são boas noticias, mas sendo boas noticias, e estando satisfeito com as intenções, não deixo de estar confuso. Senão vejamos:

A palavra: declarações do Presidente da CMG
“Não nos falta aparcamento, falta-nos civismo”
“Não se pode invocar que não há estacionamento

A letra: Grandes Opções do Plano e Orçamento 2012
2012 será ainda decisivo para o desenvolvimento da operação co-financiada pelo programa JESSICA com a qual se procurará aumentar exponencialmente a capacidade de estacionamento na envolvente do Toural” verba prevista 1.000.000€

A prática:
Zona Verde no Campurbis vira parque de estacionamento para 80 automóveis.
Apesar de ter vários parques próximos foram criados uma dúzia de lugares de estacionamneto frente à Esc. Sec. Francisco de Holanda.

Não faltam aparcamentos, mas vamos gastar um milhão de euros para aumentar exponencialmente a capacidade de estacionamento na envolvente do Toural?

Não consigo discernir coerência ou estratégia nas palavras e ações relativas à mobilidade em Guimarães.

Somos património mundial há dez anos, e ainda temos circulação automóvel no centro histórico, sendo que um dos seus largos é um parque de estacionamento.

Tudo isto me leva a perguntar:
Não vai sendo tempo da CMG divulgar qual o seu plano estratégico para a mobilidade em Guimarães?
E não seria pertinente debate-lo com a população?

O que aconteceu no novo largo de S. Francisco, e que tanto indignou o Presidente da Câmara, é reflexo de uma politica de permissividade de anos, e do convite continuado ao automovél para invadir o centro da cidade, e só surpreende os menos atentos, pelo que me apetece dizer: bem vindo a Guimãraes Sr. Presidente.

José Cunha

Forum Couros Passado, Presente e Futuro

Foi com muita expetativa que participei no 1º fórum do projeto COUROS CAMPURBIS – Envolvimento da população local, a que chamaram Couros – passado, presente e futuro.

Sabendo de antemão que este fórum não mudaria nada em relação ao que eu considero ser um atentado urbanístico em curso na zona de Couros, tinha a esperança que alguém me pudesse explicar as opções tomadas. (chamem-me crente)

O projeto: COUROS CAMPURBIS – Envolvimento da população local

Anunciado como sendo de envolvimento da população, num apelo à participação na decisão, eu pergunto: o que há para decidir?

Diz o slogan, “vamos juntos dar vida a Couros”, mas depois formam o conselho de comunidade onde só os moradores de Couros são convidados a participar, como se a revitalização da zona pudesse ou devesse ser feita apenas pelos locais.

Por não conhecer o suficiente, e por estar na fase inicial, vou dar o beneficio da dúvida aos promotores deste projeto, e esperar que as próximas atividades sejam mais esclarecedoras e produtivas.

O fórum – Couros – passado, presente e futuro

Com intervenções marcadamente politicas, foi praticamente uma campanha de promoção da obra feita/em curso.

De salientar pela positiva, a intervenção da Dra. Elisabete Pinto que surpreendeu com um pequeno documentário sobre as gentes de Couros.

A intervenção sobre o que é o projeto foi curta, vaga e sem direito a colocar dúvidas

Um fórum dum projeto que apela ao envolvimento e participação da população, mas onde apenas 3 cidadãos tiveram direito à palavra revela bem o quanto se valoriza essa participação.  

Fui para lá à procura de respostas, vim frustrado e ainda com mais perguntas.

O atentado urbanístico

A razão inicial da minha participação neste fórum foi tentar entender o que se está a passar no terreno ao lado da Fraterna, e que eu considero um atentado urbanístico.

O diagnóstico da Ribeira e zona de Couros está feito desde há muito pela CMG e pela UM, que dizem:

Revitalização e Valorização da Ribeira da Costa / Couros – CMG 

OBJETIVOS

Desenvolver uma gestão ambientalmente responsável da linha de água, promovendo e gerindo a permeabilidade do solo e do subsolo;

Preservação de espaços verdes, que se encontram enquadrados na cidade, favorecendo a sustentabilidade e a biodiversidade do sistema natural;

Criação de corredores ecológicos fluviais que assegurem a descontinuidade urbanística;

Fomentar a utilização pública destas áreas naturais, criando lugares de interface entre as vivências sociais e os espaços ribeirinhos;

Situação de referencia – Zona de Couros

 “Galeria ripícola inexistente – a impermeabilização das margens potencia cheias urbanas;

Carência de espaços permeáveis – os espaços impermeabilizados impedem a infiltração de água contribuindo para as cheias urbanas” 

Reabilitação de Meios Hídricos em Ambiente Urbano. O caso da Ribeira de Costa/Couros, em Guimarães

“A redescoberta da rede hidrográfica como elemento indispensável e imprescindível à qualidade de vida das populações urbanas torna necessário a criação de programas de reabilitação e requalificação de modo a mitigar os erros acumulados em muitas décadas onde a gestão dos meios hídricos nem sempre teve a relevância actualmente reconhecida.”

E eu digo:Please make your actions reflect your words.” Severn Suzuki Eco-92

Há municípios que estão dispostos a pagar para ter o que nós tínhamos: o programa “Porto, Cidade Sensível à Água”, considera fundamental despoluir, desentubar e reabilitar as linhas de água. Nós estamos a pagar para as entubar.

Neste terreno, corria em estado natural 100 mts dum afluente da Ribeira de Couros, que está a ser transformado num arruamento com acesso à Av. Afonso Henriques e num parque estacionamento com 80 lugares.

Para além dos danos ambientais: entubamento da linha de água, impermeabilização, perda biodiversidade, existe ainda a perda da oportunidade de tornar essa zona atrativa aos peões e utilizadores de bicicletas por oposição ao uso do automóvel.

 

Ouvi falar neste fórum de estratégia global da CMG: eu gostava de saber se entubar linhas de água e criar facilidades de acesso e estacionamento automóvel no centro da cidade faz parte dessa estratégia?

Ouvi também a falar de convivialidade: o que foi feito em termos urbanísticos para a promover? Estradas e parques de estacionamento?

Será que o acesso automóvel através da Av. Afonso Henriques é imprescindível para o CampUrbis?

Não se corre o risco da zona se tornar demasiado frequentada por automoveis e pouco apelativa aos peões?

Seria compatível o acesso viário e a manutenção da linha de água a descoberto?

Aqui estão algumas questões que vão ficar sem resposta. Extemporânias, por não se ter promovido a discussão em devido tempo, no entanto ajudavam a entender as opções.

José Cunha