O Ambiente na História (9)

Esta rúbrica pretende relatar factos, noticias e curiosidades de outros tempos, relacionados com o ambiente no concelho de Guimarães.

urinol publico

Um comentário ao seguinte texto, é o de que acha-se um bocado cómico. Repare-se que podia haver certo cheiro à saída das missas que impedia as pessoas de se despedirem! Mas, é reflexo também de queixas sobre limpeza na nossa cidade, naquele tempo:

«Lamentações d’um philosopho. Descia, uma noite das ultimas, a rua da rainha um moço de aparência miserável, cara de fome, os olhos languidos, a barba desgrenhada. Trajava de luto, um facto coçado, lustroso, que benzina alguma poria em termos decentes.

Ouvimos as suas lamentações: «Esta camara é genial. E não há duvida que fantástica. Este urinol, aqui, em tapagem de corredor, não se pode dizer que fosse obra de genio, mas foi, com certeza, por filosofia de Tantalo.

O corredor era vasto urinol e, como talvez não bastasse, lembrou-se a camara d’um acréscimo… por via dos tântalos com vontade inexgotavel. Impele que, à saída das missas, ao domingo, os cumprimentos se demorem e tem, aliás, o urinol uma moralidade, como as fabulas – tapa os olhos honestos as tragedias cómicas, de que o corredor é tablado.»

Tinha fome e não deixava de ter razão, o tal philosopho.»

in, “Comércio de Guimarães”, 1901.

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O Ambiente na História (8)

Esta rúbrica pretende relatar factos, noticias e curiosidades de outros tempos, relacionados com o ambiente no concelho de Guimarães.

ambiente na historia

« No mundo das aves.

M. J. Roux ocupou-se em La Revue do que ele chamou “Os mestiers e profissões das aves”. Os seres alados – diz o autor- teem pedreiros que sabem levantar muros, cimentar com calhaus e tapar com argamassa. São assim o gavião, a picancilha, a andorinha, a narceja. Teem carpinteiros: o picanço, o torcicola, o picanço verde, que trabalham a madeira por dentro, de tal maneira que uma árvore fica parecendo uma imensa planta.

Há jardineiros, exemplo: o pavoncino, que não tem egual na limpeza dos carreiros dos jardins. Há os boemios, vagabundos e pilhadores, como os bico-crusados a quem Cornish chama os ciganos do mundo ornitológico. Encontram-se também polícias. Facto estranho, esses guardas da paz recrutam-se geralmente nas espécies mais fracas.

O papa moscas, não contente de assinalar por gritos a aproximação do perigo, não duvida em atacar o gavião, a águia e outras mais fortes do que ele. Inspira-lhes receio suficiente para os por em fuga, desde que o descobrem empoleirado numa árvore ou pousado sobre um fio telegráfico, que é o posto de observação seu favorito.

O tordo amedronta até o corvo e o falcão, mas não tranquilisa completamente aqueles que protege, pois de polícia passa algumas vezes a rapinante. Essas aves-polícias só devem o prestigio ao seu poder de resolução.

Um só, da espécie de tordo, basta para conter em respeito um bando de pardais  prestes a lançar-se sobre um campo ou a afastar o milhafre que já volteava sobre a capoeira.

Belo exemplo do que pode a defeza da ordem da propriedade.»

In, “O comércio de Guimarães”, 14 de julho de 1939, por J. Fontana da Silveira.

O Ambiente na História (7)

Esta rúbrica pretende relatar factos, noticias e curiosidades de outros tempos, relacionados com o ambiente no concelho de Guimarães.

seca

Numa pesquisa que se fez sobre certo assunto, encontrou-se outro que está a propósito destes textos sobre ambiente ao longo da história aqui em Guimarães. Sem adiantar muito mais, o Verão de 1854 parece ter sido rigoroso pelas citações. Falava-se da falta de água. Na freguesia da Costa todos os moradores “havião total falta de água”. Por Agosto, avisaram as pessoas para tirarem os obstáculos dos rios, (…)«por isso que a escassez de Agoas que se dá é motivada pela intempérie da estação e desarranjo na machina da natureza com falta de chuvas. Se emquanto pelo mesmo motivo de escassez d’agoas tem os Lavradores lançado mão de novos e outros artificios para regarem as suas cearas, isto abeira dos rios» (…) e sem água não havia cearas. A citação que se fez está no livro de vereações da Câmara de Guimarães de 1853 a 1856. Mas, há mais. Nos jornais da época em notícias sobre a cidade precisamente por causa da seca daquele ano:

«Tumulto.- No mercado de sabado esteve para haver grande tumulto popular em Guimarães pela carestia de milho, que está a 800 reis; a authoridade conseguiu apasigua-lo.

Fome.- Escrevem de Guimarães que se receia grande fome: os campos vão secando de todo; as uvas amadurecem e logo racham – e está tudo caro!!»

Os jornais davam assim notícia da carestia de pão, certa fome e de uma pessoa em Brito que já tinha morrido por causa disto.

O Ambiente na História (6)

Esta rúbrica pretende relatar factos, noticias e curiosidades de outros tempos, relacionados com o ambiente no concelho de Guimarães.

entubamento

O estranho orgulho em entubar linhas de água que tem resistido até aos nossos dias.

«Tenho a honra de propor que se oficie à Repartição competente, por intermédio da Repartição de Engenharia desta Câmara, a solicitar a cobertura do Regato que do Campo da Feira se dirige à Madroa, não só pela pouca profundidade do mesmo, como ainda pelos prejuízos que acarreta nas épocas chuvosas, provocando inundações nos prédios marginais e ainda para bem da higiene, em virtude de tal regato ser causa produtora de mosquitos e outros insectos que constituem perigo para a saúde publica

In “Livro de actas” da Camara de Guimarães, em 1942,  na folha 79

O Ambiente na História (5)

Esta rúbrica pretende relatar factos, noticias e curiosidades de outros tempos, relacionados com o ambiente no concelho de Guimarães.

incendio

Será curioso notar que os “nossos maiores” já se preocupavam com os incêndios nos montes. Acontece que naquela altura, o rei (…)” tendo determinado mandar fazer grandes plantações e Sementeiras de Arvores de diferentes espécies por todo o Reino, para ocorrer à falta de combustível que começa a experimentar-se: e querendo ao mesmo tempo dar Seguras providencias para que se evitem os incêndios que frequentemente acontecem nos Bosques, e Matas com hua perda incalculável de madeiras e de lenhas  em grande prejuízo publico: He servido ordenar” (…)” haja durante os mezes de verão devassas abertas sobre crime de lançar fogo” (…) “a necessidade de dar providencias para acautelar  o crime de cortar, e de arrancar arvores pelo pé impondo-se geralmente hua pena capaz de o cohibir”(…).

in, “M-2672: Provisões e sentenças” da comarca de Guimarães, fl.58.