ESCOLA COM PEDALADA

Os ativos talentosos únicos e irrepetíveis que existem hoje em Guimarães “por via da existência de um sistema de ensino de excelência, onde pontuam escolas secundárias prestigiadas…” (CMG 2014) assinalados na candidatura de GUIMARÃES A CAPITAL VERDE EUROPEIA justificam uma séria reflexão da escola sobre o seu papel renovador e empreendedor numa sociedade mais ecológica e sustentável do ponto de vista ambiental. Nesta perspetiva, é atual e pertinente o tema da mobilidade sustentável e do potencial da bicicleta na conquista de um estilo de vida saudável, assunto que deve ser refletido e debatido pela sociedade civil. O impacto do transporte ativo manifesta-se também na sustentabilidade da nossa cidade, pois os nossos hábitos quotidianos de deslocação para a escola produzem efeitos diretos no tráfego rodoviário urbano e por consequência na qualidade de vida dos seus cidadãos, indo ao encontro do desafio emanado do documento estratégico para tornar Guimarães uma cidade mais verde.

Neste contexto impõe-se a seguinte pergunta: Porque não considerar, em benefício da sustentabilidade das cidades e da qualidade de vida dos cidadãos, a bicicleta (enquanto transporte ativo) na oferta de transporte para a escola como medida de investimento público no domínio da mobilidade?

Escola com Pedalada
Foto www.cyclox.org

Parece-me acertada a medida que permita uma escolha plena do modo de deslocação para a escola, admitindo-se a possibilidade de utilizar a bicicleta como alternativa ao automóvel e ao transporte público para cumprir este trajeto quotidiano, baseando a minha opinião nos seguintes pressupostos. No plano da mobilidade, a bicicleta é um transporte individual versátil que permite uma elevada autonomia, é fácil de utilizar, ocupa pouco espaço, é fácil de estacionar, mas a sua maior virtude está na redução do tempo gasto nas curtas deslocações (até 4 km), principalmente em situação de trânsito. A vertente ecológica da bicicleta enquanto transporte silencioso e não poluente (emissão de gases) garante-lhe um lugar cimeiro enquanto transporte amigo do ambiente. Toda a forma de deslocação onde a energia motriz provém do indivíduo determina o modo ativo das suas deslocações. Nesta medida, a decisão de utilizar a bicicleta enquanto transporte ativo nas múltiplas deslocações diárias revela uma atitude sensata e inteligente do ponto de vista do combate ao sedentarismo e nos ganhos evidentes de saúde que daí advêm.

Um recente estudo efetuado na comunidade educativa da Escola Secundária Martins Sarmento evidencia um cenário positivo no que se refere à bicicleta, pois a maioria (95%) dos 145 alunos inquiridos afirmou saber andar de bicicleta e um número considerável deles reside num perímetro favorável ao uso da bicicleta. Para a maioria dos alunos (92%) andar de bicicleta é “fixe”, sendo muito utilizada de forma esporádica nos tempos livres. A escola pode desempenhar um papel formativo e mobilizador, aproveitando este quadro positivo, para produzir pequenas mudanças numa sociedade dominada pela mobilidade motorizada e contribuir diretamente num processo de inversão favorável ao transporte ativo. Para o efeito será determinante envolver os alunos no processo de mudança e comprometer as famílias e a sociedade civil neste esforço de transformação.

A eficiência e a comodidade conferidas à bicicleta pelos avanços tecnológicos, associada a um transporte económico, silencioso, amigo do ambiente, independente e fundamental-mente ativo para a pessoa, tornam esta opção de mobilidade atraente e inteligente, sendo desejável a sua generalização. Esta necessidade de “renovação ambiental” coloca a mobilidade sustentável na agenda das decisões sobre o planeamento urbano, privilegiando o conceito de “cidadão multimodal” onde a escolha da melhor solução de transporte para cada necessidade específica é promovida e cuidada.

Ricardo Lopes – Professor de Educação Física

Ligação para a dissertação de Mestrado em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário: Transporte Ativo – Implementação e avaliação de um programa de intervenção sobre os hábitos de deslocação em bicicleta para a escola.

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Mobilidade Ciclável – PDM Guimarães vs PDM Braga

A AVE tem vindo desde 2010, e de forma consistente, a alertar os responsáveis políticos de Guimarães para a necessidade de implantar ações que promovam a Mobilidade Ciclável no concelho, tendo até apresentado uma Proposta de um Plano de Mobilidade Ciclável para Guimarães.

PDM Guimarães

Aquando da discussão pública do novo PDM de Guimarães, A AVE submeteu essa Proposta de Plano como sugestão, tendo recebido a seguinte resposta a esse propósito.

ponderação pdm1

Assim, o regulamento proposto para o PDM de Guimarães ignorou a mobilidade ciclável. No entanto, existe na Planta da Rede Viária traçados de ciclovias previstas, mas cuja rede não tem qualquer coerência do ponto de vista da mobilidade, denotando apenas a preocupação em ligar espaços verdes/lazer.

PDM Braga

O Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) reconhece como boa prática a inclusão de redes estruturantes cicláveis e pedonais nos PDM, indicando Braga (pág.26) como um exemplo dessa boa prática.

PDM Braga 1Os estacionamentos para bicicletas terão localizações asseguradas em algumas operações urbanísticas.

PDM Braga 2

Existe uma rede que abrange toda a cidade, ligando centros geradores de mobilidade.

Carta Rede Ciclável

CONCLUSÃO

Pesquisei algumas palavras nas propostas de regulamento dos PDMs, eis os resultados:

Bicicleta: Gmr 0 – Braga 5  –  Ciclável: Gmr 0 – Braga 15  –  Cicláveis: Gmr 1 – Braga 9

O que em Guimarães não se enquadra no âmbito do PDM, é reconhecido pelo IMT como uma boa prática noutros municípios.

Pode-se ler no Ciclando – Promoção da Bicicleta e Outros Modos Suaves (documento de referência sobre o tema), no capítulo sobre a sensibilização dos decisores políticos:

Ciclando

É tempo de deixar os velhos preconceitos e paradigmas para trás, e abraçar o futuro.

José Cunha

Encontro de Bicicletas Antigas

O Encontro de Bicicletas Antigas, apesar de ter sido integrado no “Conhecer Guimarães em Bicicleta” (evento oficial de “Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura” promovido pela Associação de Ciclismo do Minho, Tempo Livre e Guimarães 2012), foi concebido e organizado pelo Romão Barbosa e Manuel Coelho, e teve o apoio da AVE.

Fotos © Rui Rodrigues

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