O Ambiente na História (7)

Esta rúbrica pretende relatar factos, noticias e curiosidades de outros tempos, relacionados com o ambiente no concelho de Guimarães.

seca

Numa pesquisa que se fez sobre certo assunto, encontrou-se outro que está a propósito destes textos sobre ambiente ao longo da história aqui em Guimarães. Sem adiantar muito mais, o Verão de 1854 parece ter sido rigoroso pelas citações. Falava-se da falta de água. Na freguesia da Costa todos os moradores “havião total falta de água”. Por Agosto, avisaram as pessoas para tirarem os obstáculos dos rios, (…)«por isso que a escassez de Agoas que se dá é motivada pela intempérie da estação e desarranjo na machina da natureza com falta de chuvas. Se emquanto pelo mesmo motivo de escassez d’agoas tem os Lavradores lançado mão de novos e outros artificios para regarem as suas cearas, isto abeira dos rios» (…) e sem água não havia cearas. A citação que se fez está no livro de vereações da Câmara de Guimarães de 1853 a 1856. Mas, há mais. Nos jornais da época em notícias sobre a cidade precisamente por causa da seca daquele ano:

«Tumulto.- No mercado de sabado esteve para haver grande tumulto popular em Guimarães pela carestia de milho, que está a 800 reis; a authoridade conseguiu apasigua-lo.

Fome.- Escrevem de Guimarães que se receia grande fome: os campos vão secando de todo; as uvas amadurecem e logo racham – e está tudo caro!!»

Os jornais davam assim notícia da carestia de pão, certa fome e de uma pessoa em Brito que já tinha morrido por causa disto.

Polidesportivo do Parque de Lazer das Taipas

O projeto da Requalificação do Polidesportivo do Parque de Lazer das Taipas tem sido alvo de muita desinformação, pelo que decidi esclarecer os poucos vimaranenses que irão ler estas linhas, na esperança (ingénua?) de ser imitado por algum jornalista.

Com base num comunicado da Taipas Turitermas, a imprensa de Guimarães, ao estilo do jornalismo copy-paste cada vez mais praticado, não verificou a notícia e limitou-se a transcrever a desinformação, fazendo dela uma verdade irrefutável aos olhos dos vimaranenses. Como pode uma notícia não corresponder à verdade se foi publicada com o mesmo conteúdo em todos os órgãos de comunicação? Em Guimarães é fácil. Basta emitir um comunicado de imprensa.

O Povo de Guimarães escreve no artigo online Governo reconhece interesse público nas intervenções para o Parque de Lazer das Taipas, e na publicação impressa tem uma chamada de capa que diz “Projeto de requalificação do Parque de Lazer aprovado pelo Governo”.

O artigo online da Guimarães Digital alinha na desinformação com o titulo Governo aprovou projeto da Cooperativa Taipas Turitermas.

A Guimarães TV, com muitas fotos à mistura, intitula a noticia TAIPAS | Governo reconhece interesse público na requalificação do Parque de Lazer.

O Reflexo Digital também reflete a desinformação e escreve online Parque de Lazer das Taipas – Governo reconhece interesse público nas intervenções propostas pela Taipas Termal.

A DESINFORMAÇÃO – Comunicado da Taipas Turitermas

Este comunicado não visou prestar informação, mas sim fazer auto promoção.

Projeto para a requalificação do Parque de Lazer da Vila das Taipas publicado em Diário da República com relevante interessante público para a freguesia de Caldelas e concelho de Guimarães.”

Não foi publicado nenhum projeto em Diário da República, mas sim um despacho do Secretário de Estado do Ambiente e do Ordenamento de Território a reconhecer o “relevante interesse público” de um projeto sito em Caldelas, Guimarães.

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Orçamento Participativo (3)

Quando foram publicadas as Normas de Participação do Orçamento Participativo (OP) de Guimarães, escrevi um artigo onde manifestei desilusão com as restrições impostas.

Estava então longe de imaginar o quanto o OP seria mal tratado.

PREPARAÇÃO / PARTICIPAÇÃO

Foi tudo feito em cima do joelho, faltou a divulgação em massa, e a equipa responsável mostrou-se mal preparada, tendo transformado as Assembleias Participativas (AP) em sessões de esclarecimento. (ou de desinformação – já que foram incentivadas propostas que não seriam elegíveis).

O desconhecimento do processo é evidente, e só quem não sabe o que é, nem como funciona uma Assembleia Participativa pode afirmar que na próxima edição o objetivo é ter em média 208 pessoas (10.000/48) por assembleia.

PROPOSTAS

As propostas apresentadas são o reflexo dessas Assembleias Participativas, e apesar de serem submetidas em nome individual (por imposição das normas) representam  interesses das instituições “convocadas” para essas assembleias.

Foram também apresentadas demasiadas propostas com interesses individuais, o que indicia uma falha na comunicação dos princípios do OP.

O elevado número de presidentes de junta, candidatos às juntas ou membros das juntas, que apresentaram propostas, revela bem o quanto o espirito do OP foi subvertido.

ANÁLISE

A fase da análise das propostas foi a mais desastrosa de todas (até agora), e para que não reste qualquer dúvida, quero afirmar categoricamente que AS NORMAS DE PARTICIPAÇÃO FORAM GROSSEIRAMENTE VIOLADAS, TENDO SIDO CONSIDERADAS ELEGÍVEIS PROPOSTAS QUE CONFIGURAM PEDIDOS DE APOIO OU VENDA DE SERVIÇOS A ENTIDADES CONCRETAS, E OUTRAS CUJO ORÇAMENTO ESTIMÁVEL É CLARAMENTE SUPERIOR A 50.000€.

Confrontados com tal facto, os  serviços municipais alegam que o que esteve em votação foram “propostas” e “ideias”, e que após a eleição estas seriam “ajustadas” ao orçamento disponível. Um absurdo sem qualquer base legal.

As Normas de Participação do OP de Guimarães são bastante claras:

reg

De qualquer forma, decidi fazer um “desenho” para auxiliar quem não tenha percebido.

Desenho OP

Em Guimarães não se verificou a viabilidade das propostas, e estas não foram adaptadas a projetos, permitindo que estivessem em votação (e algumas fossem eleitas) propostas que são substancialmente superiores ao que será possível executar, desvirtuando qualquer processo de eleição justo.

Para o caso de ainda existirem dúvidas, deixo aqui recortes das “Perguntas Frequentes” de alguns OP de Portugal, que têm normas de participação idênticas às de Guimarães. Peço especial atenção para a definição de “projeto do OP”.

De referir que as “Perguntas Frequentes” do OP Guimarães apenas dizem “Brevemente“.

Faq

No sitio do OP de Lisboa (no qual Guimarães se inspirou) podem ser consultados dezenas de projetos que estiveram em votação, e as propostas que estiveram na sua origem. Aqui fica um exemplo:

op lisboa2

VOTAÇÃO

Considero o número de votantes (3.969)  muito bom para uma 1ª edição. No entanto, este número é conseguido de forma perversa por força da institucionalização das propostas.

A votação do OP de Guimarães não foi uma votação no mérito dos projetos. Não havendo uma divulgação em massa, os votantes foram quase na totalidade “recrutados”, e o resultado é o espelho da capacidade de recrutamento dos proponentes/instituições.

Foram 80 projetos a votos, e dos 30 vencedores, pelo menos 13 têm instituições na retaguarda e representam cerca de 75% dos votantes.

APRESENTAÇÃO

Os resultados das votações foram apresentados em cerimónia pública, onde foi feito por parte dos responsáveis pelo OP de Guimarães um balanço muito positivo desta 1ª edição.

A comunicação social, e os vimaranenses por via destes, aceitaram sem questionar a avaliação comunicada, que no entanto está longe de corresponder à verdade.

Se os erros não forem admitidos e corrigidos, a próxima edição será mais do mesmo.

EXECUÇÃO

A execução dos projetos eleitos (ou propostas, ou ideias) será a próxima fase do Orçamento Participativo de Guimarães. Estarei particularmente atento, até porque foram eleitos projetos que a meu ver não serão exequíveis e outros que poderão constituir apoios. Oportunamente darei a minha opinião sobre alguns deles.

Artigo de opinião de José Cunha

O Ambiente na História (6)

Esta rúbrica pretende relatar factos, noticias e curiosidades de outros tempos, relacionados com o ambiente no concelho de Guimarães.

entubamento

O estranho orgulho em entubar linhas de água que tem resistido até aos nossos dias.

«Tenho a honra de propor que se oficie à Repartição competente, por intermédio da Repartição de Engenharia desta Câmara, a solicitar a cobertura do Regato que do Campo da Feira se dirige à Madroa, não só pela pouca profundidade do mesmo, como ainda pelos prejuízos que acarreta nas épocas chuvosas, provocando inundações nos prédios marginais e ainda para bem da higiene, em virtude de tal regato ser causa produtora de mosquitos e outros insectos que constituem perigo para a saúde publica

In “Livro de actas” da Camara de Guimarães, em 1942,  na folha 79

O Ambiente na História (5)

Esta rúbrica pretende relatar factos, noticias e curiosidades de outros tempos, relacionados com o ambiente no concelho de Guimarães.

incendio

Será curioso notar que os “nossos maiores” já se preocupavam com os incêndios nos montes. Acontece que naquela altura, o rei (…)” tendo determinado mandar fazer grandes plantações e Sementeiras de Arvores de diferentes espécies por todo o Reino, para ocorrer à falta de combustível que começa a experimentar-se: e querendo ao mesmo tempo dar Seguras providencias para que se evitem os incêndios que frequentemente acontecem nos Bosques, e Matas com hua perda incalculável de madeiras e de lenhas  em grande prejuízo publico: He servido ordenar” (…)” haja durante os mezes de verão devassas abertas sobre crime de lançar fogo” (…) “a necessidade de dar providencias para acautelar  o crime de cortar, e de arrancar arvores pelo pé impondo-se geralmente hua pena capaz de o cohibir”(…).

in, “M-2672: Provisões e sentenças” da comarca de Guimarães, fl.58.