A promessa de candidatar Guimarães a Capital Verde Europeia, será talvez nos últimos anos, a melhor ação feita em prol do ambiente e desenvolvimento sustentável do nosso município.
É, sem dúvida, uma promessa ridícula e irrealizável, entre outros adjetivos…
Contudo, são essas características que a tornam potencialmente na “bomba atómica” que poderá despertar a comunicação social e a comunidade para o desenvolvimento sustentável, e para o seu protagonismo fundamental na qualidade de vida futura.
É urgente que Guimarães acorde e constate a realidade: em questões de ambiente e sustentabilidade, Guimarães parou no tempo e está muito distante das cidades europeias, não havendo nessa matéria qualquer visão estratégica, sensibilidade ou coragem política.
O ambiente em Guimarães tem vivido de medidas avulsas, eleitas por critérios que se baseiam no binómio comparticipação comunitária – impacto na opinião pública, e que perdem eficácia, ficando muito aquém do seu potencial, por falta de articulação e complemento com outras ações que certamente estariam previstas caso houvesse um plano de ação.
Penso que só na consciência da importância vital do desenvolvimento sustentável, e do caminho que nos falta percorrer, poderemos tomar a tarefa como um desígnio comunitário e exigir a urgência dum processo consensual e participado que defina uma visão estratégica e a sua implementação.
CAPITAL VERDE EUROPEIA
Como se processa a candidatura?
As cidades candidatas são avaliadas em função de 12 indicadores:
- Atenuação das alterações climáticas e adaptação aos seus efeitos
- Transportes locais
- Zonas verdes urbanas que integram uma utilização sustentável do solo
- Natureza e biodiversidade
- Qualidade do ar ambiente
- Qualidade do ambiente acústico
- Produção e gestão de resíduos
- Gestão da água
- Tratamento de águas residuais
- Ecoinovação e emprego sustentável
- Eficiência energética
- Gestão ambiental integrada
Para cada um destes indicadores, os candidates devem:
- Descrever a situação atual.
- Descrever as medidas implementadas nos últimos 5 a 10 anos.
- Descrever os objetivos a curto e longo prazo e abordagem proposta para os atingir.
- Listar a documentação da informação descrita.
Com base na informação descrita, um grupo de peritos na área de cada um dos indicadores fará a respetiva avaliação. Só as cidades melhor classificadas no somatório das avaliações farão parte da “shortlist” de finalistas.
As cidades finalistas serão então desafiadas a apresentar a sua visão, plano de ação e estratégia de comunicação, perante um júri que decidirá qual a cidade vencedora.
Como se constata, a candidatura não pode ser baseada em promessas. Tem de haver “obra feita”, consolidada. O que não é o caso de Guimarães.
Esta promessa demonstra, de forma evidente, um preocupante desconhecimento do que se exige de uma cidade que se pretende afirmar como referência no ambiente e desenvolvimento sustentável, e faz ruir o mito de que Guimarães se recomenda nas questões ambientais.
Olhando para os indicadores a avaliar, e para o que conheço de Guimarães, torna-se óbvio que estamos na metade de trás do pelotão, e não na vanguarda, como se exige a uma cidade com aspirações a Capital Verde Europeia.
Se houver um despertar da comunidade, visão e coragem politica, em meia dúzia de anos a nossa cidade será um local muito melhor para se viver, e os nossos representantes poderão preencher o formulário da candidatura a CVE sem receio de expor Guimarães ao ridículo.
Artigo de opinião de José Cunha