A “bagunça” na mobilidade

Fez um ano por estes dias que escrevi neste blogue o artigo Tolerância Zero à Tolerância Garantida, para denunciar os estacionamentos abusivos e a indiferença das autoridades em Guimarães.

Durante este ano, publiquei ainda, mais três artigos no blogue Olho Verde:
Estacionamento selvagem
O poder do automóvel
O poder do automóvel II

Foi por isso que recebi com grande satisfação as noticias de que o Presidente da Câmara quer acabar com a “bagunça” no estacionamento em Guimarães.

No entanto, a “bagunça” não é de hoje, pelo que me pergunto:
  – Será distração, e preocupação genuina?
  – Será pela proximidade da CEC?
  – Será para justificar a passagem de funções da PM para a Vitrus?

Seja como fôr, para mim são boas noticias, mas sendo boas noticias, e estando satisfeito com as intenções, não deixo de estar confuso. Senão vejamos:

A palavra: declarações do Presidente da CMG
“Não nos falta aparcamento, falta-nos civismo”
“Não se pode invocar que não há estacionamento

A letra: Grandes Opções do Plano e Orçamento 2012
2012 será ainda decisivo para o desenvolvimento da operação co-financiada pelo programa JESSICA com a qual se procurará aumentar exponencialmente a capacidade de estacionamento na envolvente do Toural” verba prevista 1.000.000€

A prática:
Zona Verde no Campurbis vira parque de estacionamento para 80 automóveis.
Apesar de ter vários parques próximos foram criados uma dúzia de lugares de estacionamneto frente à Esc. Sec. Francisco de Holanda.

Não faltam aparcamentos, mas vamos gastar um milhão de euros para aumentar exponencialmente a capacidade de estacionamento na envolvente do Toural?

Não consigo discernir coerência ou estratégia nas palavras e ações relativas à mobilidade em Guimarães.

Somos património mundial há dez anos, e ainda temos circulação automóvel no centro histórico, sendo que um dos seus largos é um parque de estacionamento.

Tudo isto me leva a perguntar:
Não vai sendo tempo da CMG divulgar qual o seu plano estratégico para a mobilidade em Guimarães?
E não seria pertinente debate-lo com a população?

O que aconteceu no novo largo de S. Francisco, e que tanto indignou o Presidente da Câmara, é reflexo de uma politica de permissividade de anos, e do convite continuado ao automovél para invadir o centro da cidade, e só surpreende os menos atentos, pelo que me apetece dizer: bem vindo a Guimãraes Sr. Presidente.

José Cunha

Forum Couros Passado, Presente e Futuro

Foi com muita expetativa que participei no 1º fórum do projeto COUROS CAMPURBIS – Envolvimento da população local, a que chamaram Couros – passado, presente e futuro.

Sabendo de antemão que este fórum não mudaria nada em relação ao que eu considero ser um atentado urbanístico em curso na zona de Couros, tinha a esperança que alguém me pudesse explicar as opções tomadas. (chamem-me crente)

O projeto: COUROS CAMPURBIS – Envolvimento da população local

Anunciado como sendo de envolvimento da população, num apelo à participação na decisão, eu pergunto: o que há para decidir?

Diz o slogan, “vamos juntos dar vida a Couros”, mas depois formam o conselho de comunidade onde só os moradores de Couros são convidados a participar, como se a revitalização da zona pudesse ou devesse ser feita apenas pelos locais.

Por não conhecer o suficiente, e por estar na fase inicial, vou dar o beneficio da dúvida aos promotores deste projeto, e esperar que as próximas atividades sejam mais esclarecedoras e produtivas.

O fórum – Couros – passado, presente e futuro

Com intervenções marcadamente politicas, foi praticamente uma campanha de promoção da obra feita/em curso.

De salientar pela positiva, a intervenção da Dra. Elisabete Pinto que surpreendeu com um pequeno documentário sobre as gentes de Couros.

A intervenção sobre o que é o projeto foi curta, vaga e sem direito a colocar dúvidas

Um fórum dum projeto que apela ao envolvimento e participação da população, mas onde apenas 3 cidadãos tiveram direito à palavra revela bem o quanto se valoriza essa participação.  

Fui para lá à procura de respostas, vim frustrado e ainda com mais perguntas.

O atentado urbanístico

A razão inicial da minha participação neste fórum foi tentar entender o que se está a passar no terreno ao lado da Fraterna, e que eu considero um atentado urbanístico.

O diagnóstico da Ribeira e zona de Couros está feito desde há muito pela CMG e pela UM, que dizem:

Revitalização e Valorização da Ribeira da Costa / Couros – CMG 

OBJETIVOS

Desenvolver uma gestão ambientalmente responsável da linha de água, promovendo e gerindo a permeabilidade do solo e do subsolo;

Preservação de espaços verdes, que se encontram enquadrados na cidade, favorecendo a sustentabilidade e a biodiversidade do sistema natural;

Criação de corredores ecológicos fluviais que assegurem a descontinuidade urbanística;

Fomentar a utilização pública destas áreas naturais, criando lugares de interface entre as vivências sociais e os espaços ribeirinhos;

Situação de referencia – Zona de Couros

 “Galeria ripícola inexistente – a impermeabilização das margens potencia cheias urbanas;

Carência de espaços permeáveis – os espaços impermeabilizados impedem a infiltração de água contribuindo para as cheias urbanas” 

Reabilitação de Meios Hídricos em Ambiente Urbano. O caso da Ribeira de Costa/Couros, em Guimarães

“A redescoberta da rede hidrográfica como elemento indispensável e imprescindível à qualidade de vida das populações urbanas torna necessário a criação de programas de reabilitação e requalificação de modo a mitigar os erros acumulados em muitas décadas onde a gestão dos meios hídricos nem sempre teve a relevância actualmente reconhecida.”

E eu digo:Please make your actions reflect your words.” Severn Suzuki Eco-92

Há municípios que estão dispostos a pagar para ter o que nós tínhamos: o programa “Porto, Cidade Sensível à Água”, considera fundamental despoluir, desentubar e reabilitar as linhas de água. Nós estamos a pagar para as entubar.

Neste terreno, corria em estado natural 100 mts dum afluente da Ribeira de Couros, que está a ser transformado num arruamento com acesso à Av. Afonso Henriques e num parque estacionamento com 80 lugares.

Para além dos danos ambientais: entubamento da linha de água, impermeabilização, perda biodiversidade, existe ainda a perda da oportunidade de tornar essa zona atrativa aos peões e utilizadores de bicicletas por oposição ao uso do automóvel.

 

Ouvi falar neste fórum de estratégia global da CMG: eu gostava de saber se entubar linhas de água e criar facilidades de acesso e estacionamento automóvel no centro da cidade faz parte dessa estratégia?

Ouvi também a falar de convivialidade: o que foi feito em termos urbanísticos para a promover? Estradas e parques de estacionamento?

Será que o acesso automóvel através da Av. Afonso Henriques é imprescindível para o CampUrbis?

Não se corre o risco da zona se tornar demasiado frequentada por automoveis e pouco apelativa aos peões?

Seria compatível o acesso viário e a manutenção da linha de água a descoberto?

Aqui estão algumas questões que vão ficar sem resposta. Extemporânias, por não se ter promovido a discussão em devido tempo, no entanto ajudavam a entender as opções.

José Cunha