O primeiro dia das Ecorâmicas à Mesa foi dedicado à população escolar, e contou com a presença de mais de 100 alunos do Colégio do Ave, da EB23 Afonso Henriques, da EB23 de Infias e da ES Martins Sarmento que levou uma turna do curso profissional de restauração.
Foi exibido o filme “Dive” sobre o desperdício alimentar, e no final houve uma pequena palestra da nutricionista da Fraterna, Isabel Barros, complementada por uma demonstração culinária do Chef Dinis da Cor de Tangerina, que preparou uma “Tortilha”, mostrando que podemos reaproveitar sobras de refeições para confecionar um prato simples e rápido, derrubando o argumento da falta de tempo para justificar o recurso à fast food.
1. Escrevo esta crónica no rescaldo das “Ecorâmicas à mesa”, um evento que, no passado fim-de-semana [11 a 13 de outubro], conjugou uma mostra de cinema documental sobre alimentação com uma feira de produtos da terra. Foram exibidos filmes sobre as transformações recentes da agricultura, sobre os monopólios que esmagam agricultores e consumidores, sobre a usurpação corporativa das sementes, a superabundância e o desperdício alimentar, o alarmante declínio das abelhas, os negócios do café. O público presente discutiu alguns destes temas, conheceu produtores locais e comprovou a excelência dos seus produtos, assistiu a demonstrações culinárias por chefs convidados, visitou a horta pedagógica e assistiu a um concerto inédito com hortaliças e utensílios de cozinha, transfigurados pela eletrónica. Participaram várias escolas e o público em geral, e suscitou-se interesse pela agricultura de proximidade e pelo gosto em comer melhor. Tudo isto com entrada livre e gratuita.
2. A organização (de que fiz parte) meteu na cabeça que seria possível concretizar as Ecorâmicas sem recorrer a subsídios específicos, nem a patrocínios especiais, ou sequer a operações de crowdfunding. Fomos criando, ao invés, uma rede de entidades locais, públicas e privadas, que ofereceu apoio logístico e custeou algumas despesas. A equipa organizadora mobilizou-se voluntariamente para dar corpo ao evento, nascido da parceria entre uma associação local de ambiente (AVE), uma cooperativa de serviços com um restaurante vegetariano (Cor de Tangerina) e um centro municipal dedicado a causas solidárias e à integração social (Fraterna). O efeito desta sinergia teve bom resultado: o evento concretizou-se com orçamento (quase) zero.
3. Dos vários percalços que a organização teve que resolver, houve um que causou surpresa: uma recusa de apoio logístico pelo executivo municipal cessante, comunicada na véspera do início do evento. Não é que se tivesse pedido alguma exorbitância – a não ser que se considere tal o transporte de materiais ou a oferta de brindes, a utilização de bancas expositoras ou o alojamento de dois voluntários. Será esta recusa efeito apenas da “política de retração de gastos”? Ou da falta de “disponibilidade de motoristas e carrinhas para aceder a este tipo de transporte”? Ou da suposição de se tratar de um evento “de iniciativa particular”? Ou terá sido, mais propriamente, uma manifestação serôdia da dificuldade em reconhecer e apoiar iniciativas da sociedade civil local, mesmo quando têm interesse público? Em pleno Ano Europeu dos Cidadãos, pode ser que tudo não tenha passado de um acesso momentâneo de mau humor, como se este pudesse ser um critério de que depende a relação entre os cidadãos e os poderes públicos por eles eleitos.
4. Valeu-nos um telefonema oportuno, valeu-nos a rede de apoios, valeu-nos a convicção de que a iniciativa não tinha marcha atrás. Durante as Ecorâmicas a mesa foi posta várias vezes: para as crianças das escolas que experimentaram um menu saudável, alternativo à fast food; para os participantes nas oficinas de culinária, que tiveram a oportunidade de provar sabores requintados; para os participantes no jantar de encerramento (que jantar!), confecionado com produtos de agricultura biológica. Não sabemos ainda que novas iniciativas poderão surgir daqui, mas o interesse em lançar em Guimarães um mercado de produtos biológicos começa a tomar forma. Resta manifestar a expectativa de que o novo executivo municipal, empossado enquanto decorriam as Ecorâmicas, mostre uma atitude mais cooperante com iniciativas que estimulem o envolvimento ativo dos cidadãos nas questões transversais do ambiente local.
Manuel M. Fernandes
NOTA: este artigo foi redigido para a edição de O Povo de Guimarães de 18-10-2013, a qual não chegou a ser publicada devido à suspensão da atividade do jornal.
Sementes de Liberdade conta a história das sementes desde as suas raízes no coração de sistemas agrícolas tradicionais, ricos em diversidade em todo o mundo, até à sua transformação em um matéria prima poderosa, usada para monopolizar o sistema alimentar global. O filme destaca a forma como o sistema de agricultura industrial e sementes geneticamente modificadas, em particular, têm tido um impacto enorme na agrobiodiversidade evoluída por agricultores e comunidades em todo o mundo, desde o início da agricultura. Sementes de Liberdade visa contestar o dogma promovido pelo grupo pró-GM, de que a agricultura em escala industrial é o único meio pelo qual podemos alimentar o mundo. Ao seguir a história da semente, torna-se claro como a agenda das empresas levou à aquisição das sementes a fim de obter grandes lucros e controle sobre o sistema alimentar global.
É parte de um movimento norte-americano crescente que reanalisa o papel da alimentação numa sociedade que desperdiça 1/2 de tudo o que ela produz. Este é um apelo à ação. Nós inspiramos, despertamos, desafiamos, educamos e capacitamos os indivíduos a reduzir o desperdício em casa, trabalho, escola… Fazemos pressão para que supermercados, hotéis, restaurantes e empresas poupem mais e desperdicem menos.
O documentário “Food, Inc.” retrata os perigos e as transformações operadas na indústria alimentícia norte-americana, os seus efeitos prejudiciais para a saúde pública, o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores e dos animais. “Food, Inc.” explora o argumento de que os alimentos não vêm de quintas simpáticas, mas de fábricas industriais cuja prioridade é o lucro e não a saúde humana.
Filme premiado que estreia em Portugal a 10 de outubro e que 3 dias depois fará parte das “Ecorâmicas à Mesa”.
De há três anos a esta parte as abelhas andam a morrer em todo o mundo. Embora as causas ainda continuem a ser um mistério, uma coisa é clara: está em causa algo mais do que a simples morte de uns quantos insetos e bem mais do que apenas uma questão de mel. Em busca de respostas, o filme embarca numa viagem para encontrar as pessoas cujas vidas dependem das abelhas: de um apicultor suíço que vive nos Alpes até aos gigantescos pomares de amendoeiras na Califórnia, passando por um investigador do cérebro das abelhas em Berlim, uma comerciante de pólen na China e as abelhas assassinas do deserto do Arizona. Todos referem o desaparecimento das abelhas. O filme fala-nos das suas vidas. E das nossas.
As multinacionais do café dominam os nossos centros comerciais e supermercados e comandam uma indústria avaliada em mais de 80 mil milhões de dólares, fazendo deste produto a mercadoria comercial mais valiosa do mundo a seguir ao petróleo. Nós, consumidores, pagamos bem os nossos galões e cappuccinos, mas, os cultivadores de café, continuam a receber tão pouco deste valor que muitos se vêem forçados a abandonar os seus campos.