
“As oliveiras, com os seus ramos torcidos e inclinados, eram para Cosimo esplêndidos caminhos, cómodos e planos. Ao mesmo tempo, aquelas árvores eram para ele mais queridas e pacientes, poquanto a casca, rugosa e cheia de asperidades, era das melhores para apoiar os pés e permitir o equilíbrio, ainda que os ramos grossos escasseassem bastante em cada árvore, não permitindo, deste modo, uma grande variedade de movimentos. Em vez delas, as figueiras, desde que se tenha o cuidado de não pisar senão aqueles ramos que suportem bem o peso, permitem, com a sua grande variedade de troncos e a extensão que cobrem, inúmeras voltas e itinerários sempre novos. Sob o espesso pavilhão das folhas, Cosimo vê o sol transparecer pelo meio das nervuras que riscam as largas páginas das folhas, os frutos verdes aumentarem pouco a pouco e sente o aroma do suco leitoso que escorre pelo colo dos pedúnculos. A figueira como que se apropria de quem está em cima dela, como que o impregna da sua seiva leitosa e até do próprio zumbido das abelhas; ao fim de pouco tempo, porém, Cosimo, na sua atitude de estática imobilidade, corria o risco de ele próprio se confundir com um figo e, pouco à vontade, afastava-se.
Está-se bem em cima de um rijo sobreiro ou de uma amoreira carregada de frutos; só é pena que escasseiem. Assim também as amoreiras. E, às vezes, eu próprio, que em tudo seguia o meu irmão, vendo-o enfronhar-se entre a ramaria de uma velha nogueira já meio carcomida, imaginando-a um estranho palácio de construção bizarra, com muitos pisos e inumeráveis quartos, sentia apoderar-se de mim um desejo quase irreprimível de o imitar, de subir também para cima das árvores; tal é a força e certeza com que uma árvore afirma a sua personalidade de árvore, e a sua obstinação em ser pesada e rija, que exprime até nas próprias folhas.”
Italo Calvino, O Barão Trepador. Editorial Teorema, Lisboa, 1999, pp. 101-102