A AVE NA PAC – VISITA À EXPOSIÇÃO “OS INQUÉRITOS [À FOTOGRAFIA E AO TERRITÓRIO]: PAISAGEM E POVOAMENTO”

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Carlos Lobo / Sem título, 2012 / Da série “Songs from a River”

No passado dia 17 de janeiro, a AVE realizou uma visita à exposição patente ao público na Plataforma das Artes e da Criatividade / Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Uma exposição multifacetada, centrada na imagem fotográfica como forma de inquérito ao território português, desde o séc. XIX à atualidade, que suscita no visitante uma inquietação irrefragável perante o enquadramento dos sítios que habitamos, que percorremos ou que contemplamos. Como ponto de partida, as fotografias e outros documentos da expedição científica à serra da Estrela (1881); como núcleo central, as fotografias do Inquérito à Arquitetura Regional (1955-1957) e dos levantamentos do Centro de Estudos de Etnologia, bem como fotos do geógrafo Orlando Ribeiro, compondo a imagem de um Portugal vernacular, implacavelmente extinto, arquivado na memória. Diversos fotógrafos contemporâneos captam as dinâmicas e as dissonâncias da “paisagem transgénica” atual, como Paulo Catrica e Álvaro Domingues, ou Carlos Lobo, cujo olhar se dirige à paisagem circundante do Vale do Ave; em contraste, as imagens registadas por Duarte Belo, em diversas incursões à serra da Estrela, restituem à paisagem uma expressão telúrica, aparentemente intemporal. Um percurso fotográfico rente à costa atlântica ibérica, desde Sagres até Finisterra, é-nos proposto por Eduardo Brito, e nele viajamos, sob a luz quase igual; um outro percurso, feito em contraponto por Pedro Campos Costa e Nuno Louro, ao longo de duas linhas paralelas, regista de forma sistemática, em fotografia e em vídeo, as divergências e as aproximações entre um litoral saturado e um interior desafogado. A exposição integra ainda dois filmes, um dos quais –Um pouco mais pequeno do que o Indiana, de Daniel Blaufuks- retrata um país estagnado, acentuadamente desordenado, na ressaca do Euro 2004 (filme que, aliás, integrou a edição zero das Ecorâmicas, organizada pela AVE em 2011). Muito mais nos oferece esta exposição, digna de uma visita prolongada, através de uma diversidade de autores e de temáticas que confluem num “raro retrato panorâmico de Portugal”, uma “tentativa de leitura da paisagem a 360 graus”, como refere Samuel Silva (Antologia de um país, in Público, 16/10/2015).

Agradecemos a Nuno Faria, curador da exposição e orientador desta visita, a sua disponibilidade e a boa surpresa que nos ofereceu: a presença de alguns dos autores, que se haviam deslocado a Guimarães para o lançamento do catálogo da exposição, ocorrido na véspera, e que acompanharam a visita, falando-nos da sua obra. Valeu a pena ultrapassar o “perímetro de segurança” que parece afastar a cidade do seu centro de artes, onde, afinal, o tempo e o espaço adquirem uma dimensão maior. MMF

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Daniel Blaufuks / Um pouco mais pequeno do que o Indiana / doc., 78′, video, 2006

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