“Venho por este meio manifestar a minha indignação e solicitar algumas informações.”
Foi com esta frase que iniciei alguns contactos para tentar perceber quais as orientações das autoridades em relação ao estacionamento “selvagem” que ocorre em Guimarães, em dias de futebol.
“Existe alguma suspensão ou tolerância ao código da estrada quando o Vitória joga em casa?”
Das entidades contactadas, continuo a aguardar resposta do Governo Civil de Braga e da Policia Municipal de Guimarães, tendo a PSP de Guimarães respondido como segue:
“… esclarece-se que a realização destes eventos (jogos do VSC) são, como tantos outros, de interesse da população Vimaranense e que obrigam a “procedimentos excepcionais” que são, naturalmente, entendidos e por isso deverão ser tolerados pelos cidadãos em geral.
Será utópica outra ideia que não a da tolerância.”
Como cidadão e munícipe de Guimarães de pleno direito recuso-me tolerar.
Nunca irei tolerar estacionamentos em passeios e passadeiras, e muito menos quando existem lugares vagos nos parques de estacionamento.
Será utopia?
A gestão dos estacionamentos, e a sua fiscalização, constitui uma ferramenta importante ao serviço da política de mobilidade.
Ao permitir estacionar em tudo o que é sitio, a mensagem que se envia é:
Venham, podem vir todos com o carro até às portas do estádio, que de uma forma ou de outra encontram onde estacionar.
É isto que querem? Eu não.
Mas os problemas com os estacionamentos abusivos e a indiferença das autoridades, não se limitam aos dias de futebol. Vejo quase diariamente a PSP/PM a presenciar infracções graves e a fazer de conta que não é nada com eles. Aliás, acho que o critério dos agentes para autuar alguém deve ser o 4º segredo de Fátima.
Nós por cá, temos três atitudes das forças de segurança em relação aos estacionamentos:
TOLERÂNCIA ZERO
Vigilância mais apertada. Corresponde a campanhas de poucos meses e ocorrem a cada 4/5 anos.
TOLERÂNCIA DISCRICIONÁRIA
Maioritariamente indiferente. Ocorre durante quase todo o ano. Ser ou não ser multado é uma lotaria (ou talvez não!). Os critérios são discricionários.
Indiferença total. Pode-se estacionar onde se quiser, e ocorre em dias de futebol ou em outros “eventos de interesse da população Vimaranense”.
As autoridades, ao serem complacentes com os infractores, estão a fomentar a ideia de que o crime compensa.
A proibição de estacionar serve para garantir direitos de terceiros, e são esses direitos que devemos reclamar, e são esses direitos que as autoridades devem assegurar.
Não defendo que se multe a torto e a direito, mas tem que se dissuadir os comportamentos abusivos e lesivos para com os outros. Precisamos de Tolerância com bom senso.
Não sou adepto de fundamentalismos, nem de mudanças radicais, mas vou continuar a defender que os passeios e passadeiras, independentemente da ocasião, devem estar livres de carros, e lutar contra as atitudes derrotistas e conformistas que apelidam de utopia esse desejo.
Por ter sido inspirador, por subscrever, e por achar que pode ser útil a mais alguém, aconselho a leitura atenta do artigo de opinião do Pedro Chagas Freitas, intitulado “As bolas e o medo”.
Confesso que também escrevi com a mão direita, tendo com a outra agarrado “nelas”, enquanto pensava: “São minhas, palhaços!”.
Este é um artigo de opinião assinado, e por isso, só as minhas “bolas” correm perigo.
José Cunha