O Ambiente na História (8)

Esta rúbrica pretende relatar factos, noticias e curiosidades de outros tempos, relacionados com o ambiente no concelho de Guimarães.

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« No mundo das aves.

M. J. Roux ocupou-se em La Revue do que ele chamou “Os mestiers e profissões das aves”. Os seres alados – diz o autor- teem pedreiros que sabem levantar muros, cimentar com calhaus e tapar com argamassa. São assim o gavião, a picancilha, a andorinha, a narceja. Teem carpinteiros: o picanço, o torcicola, o picanço verde, que trabalham a madeira por dentro, de tal maneira que uma árvore fica parecendo uma imensa planta.

Há jardineiros, exemplo: o pavoncino, que não tem egual na limpeza dos carreiros dos jardins. Há os boemios, vagabundos e pilhadores, como os bico-crusados a quem Cornish chama os ciganos do mundo ornitológico. Encontram-se também polícias. Facto estranho, esses guardas da paz recrutam-se geralmente nas espécies mais fracas.

O papa moscas, não contente de assinalar por gritos a aproximação do perigo, não duvida em atacar o gavião, a águia e outras mais fortes do que ele. Inspira-lhes receio suficiente para os por em fuga, desde que o descobrem empoleirado numa árvore ou pousado sobre um fio telegráfico, que é o posto de observação seu favorito.

O tordo amedronta até o corvo e o falcão, mas não tranquilisa completamente aqueles que protege, pois de polícia passa algumas vezes a rapinante. Essas aves-polícias só devem o prestigio ao seu poder de resolução.

Um só, da espécie de tordo, basta para conter em respeito um bando de pardais  prestes a lançar-se sobre um campo ou a afastar o milhafre que já volteava sobre a capoeira.

Belo exemplo do que pode a defeza da ordem da propriedade.»

In, “O comércio de Guimarães”, 14 de julho de 1939, por J. Fontana da Silveira.

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